Desenvolvimento do Bebê: Do Narcisismo Primário ao Secundário
Camile Martins
8/28/20244 min read
Sua majestade, o bebê!
Enfim chegou o dia, o nascimento do bebê, do ser humano tão programado e esperado pelos pais. Esse seria o melhor dos mundos, contudo nem sempre é assim que ocorre em todos os lares. São diversos fatores que podem não estar em consonância com essa ideia e aquela máxima que deveria ocorrer desse ser tão frágil e indefeso receber todo o amor de seus genitores não é concretizada.
O nascimento é um momento muito delicado, afinal, o bebê está chegando em um novo ambiente, um lugar desconhecido. Nessa fase, nas primeiras semanas de vida, o bebê acredita que a sua mãe e todo o ambiente externo são uma extensão de si mesmo, nomeada como narcisismo primário.
Ao contrário do narcisismo secundário, o primário é de extrema relevância, diria essencial a ser consolidado, pois são nas primeiras semanas de vida que o bebê precisa ter a sensação de plenitude, a qual caracteriza-se pelo fato de obter todo o amparo no momento da fome, frio, ou seja, que todas as suas necessidades básicas, entende-se por fisiológicas e psicológicos sejam atendidas.
O inviolado narcisismo primário
O amor genuíno recebido pela mãe (ou pela pessoa que assume esse papel), os cuidados com higiene, alimentação, um ambiente calmo, todas essas questões exercem um papel fundamental no desenvolvimento do recém-nascido. Essa sensação de ver a mãe e o ambiente externo como parte dele, cria uma percepção de unicidade, de pertencimento.
O bebê está conhecendo o ambiente, reconhecendo-se e para acontecer de forma saudável, sem traumas, os cuidados iniciais são de alta relevância. Caso ocorra uma falha, por parte da mãe ou do ambiente em que o bebê esteja inserido, nessas semanas iniciais, poderá advir uma fixação nessa fase, chamada de narcisismo primário. Esse fato poder-se-á acontecer na fase adulta, quando a pessoa desenvolve então um narcisismo secundário, o qual a libido da pessoa (satisfação) permanece voltada para dentro de si, para o seu ego.
O encerramento do narcisismo primário
A sensação de onipotência do bebê vai perdendo sua força, através de pequenas faltas, atrasos da mãe, no momento de amamentar, de atender às demandas do pequeno ser humano, contudo jamais deixando de conectar-se com amor e afeto a ele.
Essa transição é imprescindível que aconteça, a mãe precisa ir retomando suas atividades e consequentemente, mostrará ao bebê que são seres dissociados, fazendo com que ele tenha pequenas frustrações, as quais mostrarão que a mãe tem seu próprio ego, que servirá de exemplo para sua percepção de ser um ser humano diferente de sua genitora, que precisa manifestar-se para ter suas vontades atendidas.
As fases de desenvolvimento, de acordo com Freud!
Farei um breve compilado, com alguns apontamentos em cada uma das fases, destacando os possíveis impactos na vida adulta, caso não seja uma passagem suficientemente boa para a criança. São elas:
1° - Fase oral (0 – 1 ano) - corre nos primeiros meses de vida do bebê, a zona de erotização é a boca. Destaca-se principalmente para a agressividade natural, chamada de pulsão de morte, inata do ser humano, que, nesse caso, é a sucção necessária no peito da mãe.
A ausência da amamentação ou o excesso dela, pode gerar uma fixação do adulto nessa fase, como exemplo, cito os transtornos alimentares, a compulsão alimentar.
2° - Fase anal (1- 3 anos) - é uma fase em que a libido concentra-se no ânus. Destaca-se a dominação, a posse, a agressividade natural para seu desenvolvimento. Nesse estágio a criança já está consciente que é uma pessoa com seus desejos, por si só.
Os cuidadores devem encarar esse período com naturalidade, apresentando o vaso sanitário a criança. Caso o treinamento seja precoce, de uma forma mais rigorosa, na fase adulta pode desencadear uma pessoa controladora no trato com dinheiro e compulsivamente organizada.
3° - Fase fálica (3 – 5 anos) - é a fase do complexo de édipo, o qual a criança deseja ter a posse de um de seus genitores do sexo oposto( o menino deseja a mãe e a menina, o pai). O menino, por exemplo, supervaloriza o seu pênis, fantasiando que se ficar com a mãe, o pai pode tirar o que ele mais ama (seu órgão genital).
É quando ele entende que é melhor renunciar um de seus genitores para permanecer com seu órgão genital, momento chamado por Freud de castração.
A falha da castração no menino, por exemplo, pode desencadear em um adulto promíscuo, perverso, o qual desvia o sexo da normalidade.
4° Fase de latência (6 anos à puberdade ) - fase em que a libido da criança está adormecida, não há uma zona erógena. O impulso sexual é sublimado, ou seja, direcionado para outras atividades, como brincadeiras, início de atividades escolares.
É nesse período que a criança é cobrada pelos pais, pela escola para ter um desenvolvimento cognitivo esperado por eles, contudo não é levado em consideração a sua subjetividade, o seu tempo e modo diferente de se inserir no meio social.
Algumas crianças são exigidas pelos pais em adotarem o ego estipulado por eles, podendo acarretar em um adulto que não assume a sua verdadeira identidade, introjetando o ideal de eu dos seus cuidadores.
5° - Fase genital (puberdade para adulto) - Última fase onde o prazer sexual é voltado para o prazer obtido através do outro. Aqui Freud relatou que, para sanar o instinto sexual, considera-se apropriado as relações amorosas.
Nessa fase de iniciação sexual que pode ser percebida se existiu alguma fixação nas fases anteriores. Como por exemplo, um adulto fixado na fase oral, usará mais a boca para a satisfação sexual, principalmente com beijos e sexo oral, em vez de relações sexuais.
Conclusão
Segundo o pai da psicanálise, Sigmund Freud, a nossa personalidade é construída na infância e os nossos genitores, tutores, têm papel fundamental, diria decisório nesse desenvolvimento psicossexual.
Durante cada fase ocorre uma evolução, uma descoberta da criança e, para ser constituído um adulto saudável, todas as etapas precisam ser respeitadas, ou seja, vividas com equilíbrio pela criança.
Esse artigo de forma alguma é para culpabilizar os pais pelo fato de existirem adultos neuróticos, psicóticos ou perversos, pois entende-se que eles forneceram às crianças o que podiam, na concepção deles.
Entretanto, enfatizo que a psicanálise é de suma relevância, no tratamento em adultos doentes psiquicamente, pois é através dela que encontramos onde ocorreu a fixação para que seja elaborada, ressignificada e trabalhada junto com o profissional.
Camile Martins
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